Experiência em Gestão e Análise Estratégica em Tempos de Revolução Tecnológica
Autor:
* Adriano Kancelkis
Vivemos em tempos de transformações profundas, onde a cada nova onda tecnológica surge a promessa de revolução e eficiência incomparáveis. Para aqueles de nós que começaram a carreira em um mundo analógico, onde o contato humano era a chave das relações empresariais e a intuição guiava decisões, observar essa transição para o digital traz um misto de fascínio e ceticismo.
Testemunhamos a chegada da automação, do Big Data e agora da inteligência artificial, tecnologias que prometem redefinir o papel da própria liderança e até a essência do trabalho humano. Mas com que custo?
A geração que vivenciou essa transição, por um lado, compreende o valor prático dessas inovações – sim, elas aumentam a eficiência e nos oferecem análises rápidas e precisas. Mas, por outro lado, percebe também o quanto o contato humano e o discernimento intuitivo se tornam, muitas vezes, subvalorizados. A automação, que no passado era vista como uma ferramenta de apoio, agora ameaça substituir capacidades que antes considerávamos exclusivamente humanas, como o julgamento ético, a resolução de problemas complexos e até mesmo a criatividade. E nos cabe questionar: qual é o limite?
A inteligência artificial, por exemplo, tem assumido papéis antes impensáveis, gerando desde arte e música até decisões de alto impacto financeiro. Mas o que acontece quando essas máquinas aprendem não apenas a processar dados, mas a tomar decisões com implicações morais? Será que podemos confiar em uma máquina para decidir sobre uma demissão, um crédito, ou mesmo uma oportunidade de tratamento médico? Para quem viveu a evolução de um sistema baseado na observação humana e na confiança mútua, essas inovações trazem uma preocupação inevitável: será que estamos, com nossa obsessão por eficiência, negligenciando o impacto humano dessas mudanças?
Há também a questão do apagamento das linhas entre a vida pessoal e a profissional. A hiperconectividade – agora uma exigência em muitas áreas – fez com que o conceito de "desligar" se tornasse quase um privilégio. A nossa geração, que ainda teve o benefício de viver períodos de desconexão total, vê com receio o efeito dessa cultura “sempre online” sobre a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores mais jovens, que muitas vezes desconhecem os limites saudáveis entre o trabalho e a vida pessoal. A tecnologia é uma ferramenta, e quando ela se torna o próprio fim, perde-se o propósito. Esse fenômeno levanta um ponto essencial: será que o progresso está de fato nos libertando, ou estamos, de forma disfarçada, nos aprisionando a um novo tipo de servidão digital?
Para aqueles de nós que acumularam uma bagagem analógica, cada nova tecnologia deve ser uma escolha consciente. Afinal, é preciso distinguir o que traz valor real do que apenas acompanha modismos efêmeros. A experiência pré-digital nos permite olhar para a automação com um olhar crítico, vendo além das promessas de inovação. Podemos ponderar quando realmente vale a pena substituir um processo humano e quando o toque pessoal continua sendo essencial. Nos perguntamos se estamos criando um futuro mais inclusivo e humano ou apenas sofisticando a exclusão e ampliando a desigualdade sob o disfarce da eficiência.
No fim, o que essa experiência nos ensina é que o verdadeiro diferencial estratégico é saber equilibrar o tradicional e o moderno, o humano e o automatizado. E, talvez, a pergunta que nossa geração precisa se fazer não seja “como podemos nos adaptar à tecnologia?”, mas sim “como a tecnologia pode servir ao bem comum sem perder a essência humana?”. Esse é o tipo de reflexão que se torna vital em tempos de revolução tecnológica, onde a habilidade de questionar o impacto das inovações pode ser o maior diferencial para o sucesso empresarial – e, mais importante, para o progresso da sociedade como um todo.